CAVALOS
MANGALARGA MARCHADOR

21/09/1981

A verdade sobre os Fortunas do Favacho e outras histórias mais sobre genearcas famosos do passado.

Documento Genealógico elaborado por Carlos Roberto Meirelles, baseado em seus estudos e experiências sobre os garanhões que marcaram época no cavalo Mangalarga Marchador, e suas influências na raça.

Francisco Antônio Junqueira, irmão de José Faustino, deu 150$000 (150 mil réis) em 1828 por um cavalo comprado do Sr. Carlos de Sá Fortes, da Fazenda Curral (Barbacena, MG), o que naquela época era considerado uma fortuna e daí o nome "FORTUNA". Este foi o primeiro FORTUNA, "FORTUNA I". O Sr. Carlos de Sá Fortes era tio da mulher do José Frausino, daí suas relações. Quando faleceu Francisco Antônio, em 1848, seu genro Antônio Bernardino Franco pediu aos demais herdeiros que em seu quinhão viesse uma égua parida com um cavalinho, filho do cavalo chamado FORTUNA. Este depois de criado, foi presenteado ao avô do Sr. José Olinto Fortes Junqueira: José Frausino da Fazenda Favacho, em Cruzília, MG. Este foi o FORTUNA II, que morreu logo, deixando algumas éguas e três cavalos, sendo um deles FORTUNA III, de José Frausino, que foi reprodutor muitos anos no Favacho. Depois de velho veio para o Capitão Chico e deixou muitos filhos, entre eles: o BAIO-ESCURO, pai de MONTE NEGRO, este pai de "FORTUNA IV", que foi pai de "FORTUNA V" e também foi pai de PRENDA, mãe do célebre "COLORADO". Esta é a verdade sobre os FORTUNAS...
 
CAXIAS I
Na fazenda Luiziana, antes de ir para a Fazenda Angahy. Foi apresentado na primeira Exposição de Leopoldina em 1.906 com seu irmão Ladário, ambos filhos de Cuéra. Ladário foi vendido para o Estado de Mato Grosso.
O cavalo "GREGÓRIO", que foi reprodutor muitos anos no Favacho, era da criação e propriedade do Sr. Carlos de Sá Fortes. José Frausino deu 20 novilhas mestiças em troca do cavalo em 1833. "GREGÖRIO" vem a ser pai de "MANCO DO FAVACHO", nascido em 1835 que como seu pai, foi reprodutor muitos anos no Favacho. "MANCO" foi pai de "CISNE I", que gerou "CISNE II" este gerou "BRACEIRO", do Capitão Chico Marcolino, da Fazenda Invernada de Orlândia, SP. "BRACEIRO" foi pai de "BRACEIRO I", que gerou a "BRACEIRA II", uma tordilha cardã crioula do Cel. Christiano dos Reis Meirelles. Esta égua cruzada com o cavalo "BRASIL II" (crioulo do Sr. Gabriel A. Junqueira, de São José do Pardo, SP), produziu o cavalo "MINEIRO VELHO" do Angahy, que era castanho, de boa marcha, grande, garupa boa, pescoço largo e pouca cernelha.
 
De posse de dados genealógicos de diversos genearcas famosos do passado, cheguei a seguinte conclusão: o garanhão que mais atuação exerceu nos diversos rebanhos onde se criava Mangalarga foi "CAXIAS I " da Fazenda Angahy. "CAXIAS I" nasceu e foi criado na Fazenda Luziânia, em Leopoldina (MG), de propriedade de José Venceslau de Arantes Junqueira. Foi vendido para o Cel. Christiano do Reis Meirelles, pai do Sr. Adeodato dos Reis Meirelles, Fazenda Angahy, onde deixou ótima descendência. "CAIXIAS I", data de 1898, era tordilho, muito ativo, e, sobretudo muito bom de andar. Seu pai foi "CUËRA" de João Antônio Ribeiro do Capinzal, filho de "CANA VERDE" de Severino Ribeiro Rezende, da Fazenda Bela Cruz, que por sua vez era filho de "ABISMO" de Antônio Gabriel Junqueira, da Fazenda Narciso.
 
Seus filhos principais no Angahy foram, "YANKEE" pai de VETO, e de "CAXIAS II", pai de CAIXAS III e de "BÔNUS I", este pai de "BÔNUS II" que deixou vasta descendência. "BÔNUS II" foi pai de "ANGAHY MOZART", um castanho bom de marcha, vendido para Angenor Pinto Ribeiro, de Leopoldina (MG), sendo Campeão da Raça na Exposição de Juiz de Fora (MG) de 1941. "BÔNUS II" gerou três outros cavalos importantes: "MONTE NEGRO", "MINEIRO" (novo) e "SALMON". "MONTE NEGRO" foi pai de "HERDADE OURO PRETO", "MINEIRO" foi pai de "ANGAHY" (registro no 1 da Associação Mangalarga Marchador), e "SALMON" foi pai de "ABAÍBA FIDALGO", que era um belíssimo reprodutor.
 
ANGAHY MINEIRO
Filho de Brasil II com Braceira II
Bonus II cruzado com Mussoline, filha de Abaíba Lôla que meu avô Adeodato comprou de Erico, em 1928 na Exposição do Rio de Janeiro, por 500 mil réis, gerou Angahy Mineiro, um castanho de frente bonita, muito bem caracterizado racialmente, de excelente andamento e excelente reprodutor. Meu dois avós Adeodato Meirelles e Antenor Ribeiro dos Reis, montados em MOZART e MINEIRO na época do racionamento da gasolina na 2a Guerra mundial, mais precisamente no dia 15.01.44, aniversário do Adeodato; foram visitar alguns parentes em Cruzília, MG. Tanto na ida como na volta, os dois foram pela estrada de rodagem, e percorreram em cada etapa 12 km (que separam Angahy e Cruzília) em trinta e cinco minutos. Quando chegaram a tardinha no Angahy, meu tio Nelson dos Reis Meirelles foi quem soltou os animais e todos ficaram admirados.

Meu bisavô Cel. Christiano montado no Caxias I, levava do Angahy à Cruzília, e vice-versa, trinta e dois minutos. E não pensem que é muito em se considerando que o velho José Venceslau, tanto no Caxias como no Cuéra, gastava no máximo trinta minutos para ir da Luziana a Leopoldina transpondo morros íngremes e descendo... e olha que são 11 km, hein. Realmente, os cavalos antigos eram selecionados, visando sobretudo, o andamento rápido e cômodo, que não cansa nem o cavalo nem o cavaleiro, ou seja, a "marcha batida". Cuéra era um cavalo tão bom e afamado, que seu dono não o deixava na Luziana quando viajava para o Sul de Minas para caçar, com medo de algum empregado fazer alguma coisa com o cavalo. O cavalo o acompanhava e era desta maneira: iam de trem e José Venceslau exigia do maquinista que o vagão do cavalo fosse engatado logo após o seu vagão de segunda, para que ele e o pajem Agostinho Manoel pudessem vigiar o animal.

Em 1906, na Exposição de Leopoldina, realizada no local onde é hoje o Cinema, apareceu lá o Presidente Hermes da Fonseca e deram para ele andar, o "Ladário", irmão de Caxias I. Este, depois de experimentá-lo, se expressou assim: "Que animal bonito, uma pena não ser de trote..."
 
ANGAHY BONUS I
Filho de Caxias II com Castaninha II. Vejam a docilidade do Mangalarga Marchador em que aparece montado o menino José Jorge, filho do tio Christianinho. Foto de 31/05/1925.
Conforme fui informado pelo Sr. Ary Pinto Ribeiro, guarda-livro da Faz. Abaíba por vinte e sete anos consecutivos, Caxias II veio do Angahy em 1922 para o seu pai José Amâncio Pinto Ribeiro, Faz. Limoeiro, distrito de Abaíba, município de Leopoldina juntamente com Danúbio. Este era um cavalo de segunda e ruim de andar. Caxias II segundo ele que o conheceu bem, era um "Cavalaço", pedrês, frente leve, "seca", ótimos aprumos e ótimo marchador. Mussolina foi levada ao Limoeiro para cruzar com Caxias II. Deste cruzamento nasceu a extraordinária Abaíba Lôla que produziu 18 ou 19 filhos dentro os quais: Niterói, Mussoline (vendida a Adeodato dos Reis Meirelles), Eldorado e Fidalgo. Caxias II e Danúbio, depois de velhos foram castrados para acabar com a amolação na época de colocar cavalo com égua. Castrar o Danúbio que era um cavalo de segunda estava certo, mas castrar o Caxias II... não justificava.
 
HERDADE OURO PRETO, reg. 142, era filho de Angahy Garbosa com Monte Negro. OURO PRETO nasceu na Fazenda Angahy a 07.10.43. Foi levado a Fazenda Boa Esperança de Antônio Josino Meirelles em Batatais, Estado de São Paulo, com um ano de idade. Era queimado e excelente andamento. Na Boa Esperança foi pouco utilizado apenas de 1946 a 48, e em 1949 foi vendido para a Fazenda Engenho de Serra por 5 cotos de réis... onde se revelou bom reprodutor. Mais tarde, o Sr. José de Andrade Reis (Dié) o adquiriu e o levou para sua Fazenda Herdade, onde deixou boa descendência: Herdade Jupiá, Herdade Música, Herdade Alteroza. etc..
 
"ANGAHY" registro no 1 da Associação, era filho de Angahy Mineiro e Angahy Listra. Em 28 de outubro de 1950 foi escolhido como padrão de raça, animal que, como Campeão Nacional de Raça e de Marcha, reunia os requisitos propostos e aprovado em assembléia da já constituída Associação Brasileira do Cavalo Marchador da Raça Mangalarga.

"ABAÍBA FIDALGO", nasceu a 25.09.1941 por Angahy Salmon e Abaíba Lôla. Preto. Serviu de nov./44 a dez./47. Foi vendido para o Governo Federal. Era um belíssimo garanhão, muito bem conformado e caracterizado. Frente leve e delicada. Ótimo marchador. Ótimo reprodutor. (vide foto). Fidalgo foi pai de Abaíba New York que o Sr. Erico R. Junqueira apreciava muito e Abaíba Negrita, mãe de Abaíba Marengo que gerou Providência Regente, Campeão Nacional em Campos, 1975.
 
ANGAHY BONUS II
Nascido em outubro de 1.932 tordilho,
frente leve, delicada, ótimo reprodutor,
filhos: Monte Negro, Salmon, Mozart, Mineiro...
"YANKE" também foi bom reprodutor na Fazenda Angahy. Era filho de "CAXIAS I" com SOBERANA e deixou dois bons filhos: VETO e ANGAHY, um preto retinto vendido ao Sr. José Olinto Fortes Junqueira, que posteriormente o vendeu para Dr. Celso Torquato Junqueira, Fazenda Tapiratuba, Morro Agudo, SP. Sr. Celso informou-me que era excelente cavalo, muito ardente por sinal e bom de marcha. VETO além dos muito produtos deixados na Angahy, gerou uma filha VÊNUS II que era mãe de Angahy Salmon, pai de Abaíba Fidalgo que me referi anteriormente.
"CAXIAS II", filho de Caxias I com Angahy Jóia por Soberada, além do Bônus I, gerou Caxias III do Angahy, Caxias Pitangueiras, e a fabulosa Abaíba Lôla - Reprodutora base do plantel do Sr. Erico Ribeiro Junqueira. Caxias III deixou descendência no Angahy e sua principal filha catalogada foi "Parnasia" filha de Manchada por Orgurmercindo. Parnasia cruzada com "Rei" (filho do Ouro Preto do Campo Lindo), do senhor Manoel Sá Fortes Junqueira, produziu Normalista. Caxias "Pitangueiras" foi utilizado no rebanho da Fazenda Pitangueiras, em São Vicente de Minas, de propriedade do criador Urbano A. Reis (Banico), pai do Sr. José de Andrade Reis (Dié) da Herdade.
 
"ABAIBA LÔLA", foi com toda a certeza a principal filha do Caxias II como veremos mais adiante.
 
Extrapolando as barreiras da Fazenda Angahy, vou demostrar a influência do "CAXIAS I" nos diversos rebanhos onde se criava Mangalarga. Caxias I gerou Caxias Alazão do Campo Lindo, este gerou COLINA II, Colina II gerou Colina III, mãe de Fantasia, Fantasia gerou Pensamento e Minuta, Minuta gerou Sheik. Pensamento gerou Maxixe e Baluarte, este Campeão na XI Exposição Nacional de Animais de Belo Horizonte, em 1944, da qual foi Vice-Campeão o cavalo Sargento, do senhor José Bráulio Junqueira de Andrade. Outra fêmea que Caxias Alazão gerou foi Tapera II, avó de Comparsita, do Sr. João Francisco Diniz Junqueira que vendeu para Sr. José Oswaldo Junqueira.
 
ANGAHY
Registro número 1 da Associação Brasileira de Mangalarga Marchador efetuado em 28.10.1950. Campeão da raça e de marcha em Belo Horizonte.
Caxias I gerou duas filhas que ficaram afamadas. Tratam-se de Mangalarga II e Caxias I. Mangalarga II uma tordilha grande crioula do Coronel Christiano dos Reis Meirelles, cruzada com "Safster" (crioula do Chico Orlando), produziu o "Cupido", um tordilho bom de marcha que cruzado com Prenda, mãe de Colorado, gerou o "Radium" (tordilho) pai de Lôla do Chico Orlando, avó do afamado "BURITY" do senhor Sebastião Assunção Malheiros. Lôla também gerou Negrita, Negrita gerou Alvorada, Alvorada gerou Aurora - mãe do "FOGO", do senhor Rubens Novaes de Pinhal, SP. A fêmea Caxias I cruzada duas vezes com o afamado "BELLINI", produziu dois cavalos irmãos, de propriedade do Sr. Urbano Xavier de Andrade, pai do saudoso José Bráulio Junqueira de Andrade (Campo Lindo). Em 1910, gerou o "Ouro Preto" tordilho, bom de andar; e, em 1912, o "Mozart", castanho, bom de marcha, frente boa garupa caída. Ouro Preto gerou Plutão, este gerou V8, V8 gerou Sargento por Abaíba Exposição.
 
Mozart gerou Canadá, do senhor José Olinto Fortes Junqueira, um baio marchador, grande, que gerou Holophote, Pinga Fogo e Paulistano. A mesma égua, Caxias I, cruzada com Rápido, um tordilho bom de andar, do Sr. Albertino Dias Ferraz, produziu a fêmea "Caxias II", mãe de Veto do Angahy e do V8 JF. Veto gerou Vênus II, esta Angahy Salmon, Salmon gerou Abaíba Fidalgo que falei anteriormente. "SALMON" foi vendido para o Sr. Erico Ribeiro Junqueira. Era tordilho, muito bem conformado e caracterizado, frente leve e delicada, ótimo marchador e foi excelente reprodutor. Na Fazenda Abaíba foi pouco utilizado tendo sido vendido para o Governo Federal. A influência de Salmon na tropa Abaíba se fez sentir através de seu filho "Fidalgo".

E como havia falado do "Rápido", do Sr. Albertino, pai da fêmea Caxias II, tenho a dizer ainda que este teve, mais uma filha que se chamava "Censura", por Frinéia JB, esta por Bellini, e, mais um filho que se chamava "Branco", do senhor Gabriel Fortes Junqueira de Andrade (Bilota). Segundo meu tio Salviano Junqueira Ferraz, neto do tio Thomé do Narciso, este cavalo "Rápido" pertencia outrora ao tio João "Bravo" (do Capinzal).
 
ABAÍBA FIDALGO
Por Angahy Salmon e Abaíba Lôla.
Preto-retínto. Foi um belíssimo reprodutor.
Ótimo Marchador. Vendido para o Governo Federal.
Tio João gostava tanto do cavalo que sua cocheira era debaixo do seu quarto. Todo o dia ao se levantar calçava seus tamancos que provocavam barulho no assoalho da casa. Ao ouvir o barulho seu pajem preparava o cavalo para ele sair. Entretanto, certa vez, havia um burro do seu vizinho, que por sinal era seu opositor na política. Tio João "Bravo", como era conhecido na família, comandava a política em Silvestre Ferraz. Este burro entrava quase toda noite no quintal da sede do Capinzal onde ficava comendo a couve da horta. Pois bem, sua mulher sabendo do gênio forte do seu marido, preveniu ao pajem para que toda a vez que visse o tal burro na horta que o tirasse o mais rápido possível, para que o patrão não o percebesse. Porém certo dia tio João levantou-se bem cedo e deparou com o animal na horta. Para que, meu Deus! Enfezou-se de tal maneira que pegou a sua arma que ficava sempre carregada, apoiou-se muito bem e disparou tiro certeiro. Pronto: estava o burro morto. Aí então, seu pajem levantou-se mais que depressa e foi preparar o "Rápido" que estava na cocheira debaixo do quarto. Foi um alvoroço. Tio João montou imediatamente o cavalo e saiu a galope em direção à casa do seu vizinho - opositor. Apeou e foi batendo fortemente na porta da casa do homem. Este assustado, pulou da cama (era de madrugada), abriu a porta e ao ver João na sua frente foi logo perguntando:

— Que foi Sr. João? Que deseja a estas horas?
— Olha, me vende aquele seu burro. Vou viajar e preciso dele.
— Não, não vendo. Tenho só ele. Não posso vendê-lo.
— Te pago bem. Quanto quer? - E insistiu para que o homem abrisse o preço. Falou um absurdo para a época.
— Fico com ele. Tirou do bolso o dinheiro, pagou "incontinenti" e disse: "e já matei, até logo".
 
Montou no cavalo e foi-se embora. Eta tio João "Bravo", hein... cabra macho bragado.
 
Vejam como é grande a influência do cavalo "Caxias I". V8 através de seu filho Sargento, deixou inúmeros filhos e filhas bem conformados e caracterizados. Em todos os pedigrees que tive oportunidade de analisar, o CAXIAS I é o cavalo que mais repetição tem.
 
CAXIAS I
Foto tirada em 1908 em Belo Horizonte
quando foi consagrado Campeão da Raça
já em mãos do Cel. Christiano dos Reis Meirelles. No Angahy deixou ótima descendência.
A ascendência de todos (com exceção de apenas um: Abaíba Javari) genearcas famosos utilizados na Fazenda Abaíba em Leopoldina, vai dar no sangue de Caxias I. Senão, vejamos: ao "Abaíbas": Niterói, Eldorado, Predileto, Fidalgo, New York, Emir, Naipe, Retrato, Talisman e Salmon. Todos são netos ou bisnetos do velho Caxias I. Niterói, Eldorado e Fidalgo era irmãos, filhos da mesma mãe "Abaíba Lôla", neta do Caxias I. Lôla era castana-escura, bem conformada, bem caracterizada racialmente, ótimos aprumos, frente leve e delicada, ótima marcadora e muito boa reprodutora. Sua mãe Musolina, era bisneta de Trovador, de Antônio Gabriel Junqueira, filho do Barão de Alfenas, da Fazenda Narciso, Cruzília, Sul de Minas. A respeito de Trovador, cita-se: "filho de Rosilho, marcha e formas afamadas". Isto trocado em miúdos, Trovador deveria ter sido um belo animal e bom marchador. Era castanho, irmão de Cana Verde (tordilho), o que nos leva a crer que seu pai "Rosilho" ou "Abismo" era um excelente raçador. O tronco do Trovador é muito importante como veremos mais adiante, pois Trovador gerou Pretinho, este The Money, que foi pai do não menos importante "BELLINI", de Urbano Xavier de Andrade, Fazenda Campo Lindo, Sul de Minas. Caxias I, ao qual estou me referindo, é do tronco de Cana Verde, irmão do Trovador.

O cavalo "Predileto" utilizado na Fazenda Abaíba, era crioulo do CeI. Severino Junqueira de Andrade. Era neto de Caxias I, e foi possivelmente o melhor reprodutor utilizado pela Fazenda Abaíba, tendo concorrido para imprimir no rebanho grande uniformidade, frente leve e delicada. A sua notável atuação se fez sentir através de seus filhos ELDORADO (Lôla) e EMIR (Paraibuna). ELDORADO nasceu a 14.08.1940. Era tordilho, muito bem conformado e caracterizado, excelente reprodutor. Serviu de outubro/1942 a outubro/1951. Campeão da Raça e
Campeão de Marcha, na lI Exposição Estadual de Equídeos, realizada em 1948, em Belo Horizonte. Foi levado para São Paulo, para um filho do Sr. Erico, Antônio de Andrade Ribeiro Junqueira, fazendeiro em Araçatuba, SP, onde foi bastante utilizado, tendo gerado o esplêndido ‘Providência ltu", que infelizmente desapareceu precocemente, porém, a tempo suficiente de gerar diversos animais realmente valiosos, tais: União AJ, Abaíba Remo, Abaíba Reserva, Abaíba Querência e Quimera, Abaíba Sereia e Veneza etc.
 
SARGENTO JB
Filho de V8 JF com Abaíba Exposição,
irmã de Abaíba Lôla. Muito bom reprodutor
e muito bonito.
EMIR nasceu a 17.10.1940 por Predileto e Paraibuna. Tordilho. Registrado. Muito bem conformado e caracterizado. Excelente reprodutor. Sua mãe é a égua que mais satisfação deu ao Erico em termos de Exposição. De passagem pela Fazenda Abaíba em companhia do meu tio Fernando Ribeiro dos Reis, Erico nos fez a seguinte narrativa de um acontecimento que muito o emocionou e que fica tremendamente comovido ao contar. É o seguinte: Em 1922, na Exposição do Centenário da Independência do Brasil, realizada no Rio de Janeiro, no Campo do DERBY, ele segurava a égua "Paraibuna", quando esta foi classificada, o Cel. Christiano dos Reis Meirelles, adentrou a pista e foi cumprimentá-lo:
 
— Parabéns, Erico. Que égua boa. Este super emocionado disse.
— Tio Christiano, olha a "marca" da égua. O velho Christiano volteou o animal e na perna direita deparou-se com a marca "C", sua crioula.

Por esta narrativa, e outras, como a do primo Turruquinho de Leopoldina; e, também, pelo grau de parentesco da mulher do Dr. Custódio Monteiro Ribeiro Junqueira com o Cel. Christiano (era sobrinha deste), posso afirmar com absoluta e plena certeza, que todas as éguas utilizadas pelo iminente médico, Dr. Custódio, para atender sua vasta clientela vieram da Fazenda Angahy. Ele mesmo mandava vir, pois era genro do irmão do Cel. Christiano, Olimpio de Souza Reis, da Fazenda Pensilvânia, em Leopoldina. Aliás, foi o tio Olimpio (conforme me contou o Erico), que viu, gostou e comprou o Caxias na Luiziania para o seu irmão Christiano da Fazenda Angahy. A narrativa a respeito da
"Paraibuna" já havia sido contada ao meu finado pai, Antonio Josino Meirelles em outra ocasião, O lote de éguas que me referi acima e que pertenciam ao Dr. Custódio, foram entregues ao Erico para criar à meia. Com estas éguas e mais algumas que comprou do meu tio-avô Francisco Romeu, da Bela Vista, em São Vicente de Minas, Erico iniciou a sua criação.
 
FAZENDA ANGAHY
Nesta fazenda nasceu a Família "Souza Meirelles". Lá morou, viveu e morreu Cel. Christiano dos Reis Meirelles calçando as botas para andar a cavalo com 83 anos de idade.
Para quebrar um pouco a monotonia de tanta genealogia, vou contar a história do MANCO DO FAVACHO, nascido em 1835: Potrinho extraordinário, dando esperança de se tornar um grande garanhão, foi solto no pasto até os quatro anos de idade, a espera de um famoso domador, o qual viria "do sertão" (Fazenda Invernada) para esse fim. Potro amplamente desenvolvido, não se deixou dominar facilmente e, em uma furtada infeliz, caiu e deslocou uma articulação do omoplata, dando origem ao próprio nome. Salvou-se, felizmente, deixando ótima descendência, destacando-se Colorado, o qual tinha o extraordinário dom de transmitir as próprias qualidades.
 
Conta-se que naqueles velhos tempos, o Sr. João Antonio Ribeiro, do Capinzal, enjeitou oito contos... pelo Cuéra, pai de Caxias I de um interessado do Estado de São Paulo, que queria levá-lo para Franca, SP. E por falar no Sr. João do Capinzal, não posso deixar de contar a sua façanha de percorrer 50 léguas, que o separavam da prometida, em três dias no lombo de seu cavalo "Perfeito". Partiu da Fazenda Niagara, em Leopoldina, e caminhou 50 léguas até chegar à Fazenda Bela Vista, em São Vicente de Minas. Quando soltou o animal, este saiu "soprando" como se quisesse andar mais... e depois de casado, ainda percorreu mais 20 léguas com a noiva na garupa até chegar à Fazenda em Silvestre Ferraz. "Perfeito" era crioulo da Bela Vista.
 
Bem, vou escrever agora sobre o "BELLINI" do Campo Lindo e seus descendentes. Bellini vem do tronco do Trovador. Era filho de The Money com Dourada. Castanho. Pequeno.

Ótimo marchador e ótimo reprodutor. Deixou diversos filhos bons dos quais posso enumerar dez: Ouro Preto, Mozart, Clemanceau I, Bolivar, Pégazo, Rádio, Brasil, Calçado, Submarino e Canário. Filhas posso citar: Zaina II, Frinéia JB, Indiana (mãe do Plutão). Do Ouro Preto e Mozart, já me referi a respeito deles quando versei sobre a fêmea Caxias I, mãe dos dois. Clemenceau I, filho de BeIlini e Sota por Rio Negro. Era castanho, pequeno e bom de marcha. Seu principal filho foi Clemanceau II (tordilho), que foi cedido ao Cel. Severino J. de Andrade, da Tabatinga. Este gerou Nero pai de Tabatinga Predileto, principal raçador da Fazenda Tabatinga.
 
"Bolivar", 1926, de José Bráulio Junqueira de Andrade, castanho, trote de cão, filho de Bellini e Bolívia por Apolo Colina. Bolivar gerou Panchito, este gerou Baluarte na Fazenda Engenho de Serra, que foi levado pelo Sr. Dié para a Herdade, onde deixou ótima descendência. Baluarte gerou diversos filhos e filhas bem caracterizados racialmente, tais como: Herade Alteza e Herdade Tiroleza. Alteza gerou com Seta Caxias: Bronze e Cadilac; com Herade Ouro Preto: Jupiá; e com o próprio filho Cadilac: Capricho. Tiroleza com H. Ouro Preto gerou a esplendida H. Música, mãe de H. Maxixe e BaIlet.
 
CLEMANCEAU I
Castanho, pequeno, bom de andar. Pai de Clemanceu II que foi para o Cel. Severino Junqueira de Andrade, da Tabatinga.
PROVIDÊNCIA ITU
Filho-neto de Eldorado. Reprodutor muito
bonito que desapareceu precocemente,
deixando, no entanto, ótima descendência. Campeão na X Exposição Feira de São Paulo, em 1.960.
ABAÍBA ELDORADO
Excelente reprodutor. Campeão da Raça
e de Marcha na 2a. Exposição Estadual
de Eqüideos 1.948, em Belo Horizonte.



Outro filho importante de Bellini foi Pégazo, do Sr. Otto Junqueira, da Fazenda Traituba. Era zaino, bom de andar. Sua mãe chamava-se "Viva" por Gumercindo.Pégazo com Canária gerou Rádio (zaino), Campeão da Raça e Campeão de Marcha em Lavras, 1943, julgado pelo meu saudoso pai Antonio Josino Meirelles, Cel. Severino do Cafundó, e pelo Prof. Darwing Alvim. Rádio era bom marchador e seu principal filho foi "Sátyro" que o Sr. Otto Junqueira vendeu para o Sr. Adeodato dos Reis Meirelles (pai de Antônio Josino Meirelles). "Sátyro" foi reprodutor muitos anos na Fazenda Angahy, tendo gerado diversos filhos e filhas, dos quais posso citar sem mais delongas: Angahy Miron e Angahy Presente (último reprodutor utilizado na Fazenda Boa Esperança, em Batatais, Estado de São Paulo).

BELLINI
Foto de 28.02.1908. Fazenda Campo Lindo. Exelente raçador. Excelente reprodutor. Ao fundo, o menino quem se vê é o Bentinho, dos Lobos.
ANGAHY MOZART
Filho de Bônus II. Campeão em Juiz de Fora em 1.941. Foi vendido para Agenor Pinto Ribeiro de Leopoldina. Excelente marchador.
Pégazo gerou entre muitas filhas, duas que ficaram bem conhecidas: Dançarina e Rapôsa, ambas do Sr. Otto Junqueira.
 
Brasil, filho de Bellini, 1910, crioulo, do Sr. Severino Ribeiro Rezende, da Bela Cruz. Era alazão, marchador, pequeno e tinha mão e pé machucado. Só servia para reprodução. Era um cavalo muito bonito e foi vendido para Renato Junqueira Netto, com 12 anos; onde deixou boa descendência: Ximango, Carnaval e Sulmineiro.
 
O último filho de Bellini que vou relatar é o "Calçado", do Sr. José Bento Junqueira de Andrade (Bentinho), Fazenda dos Lobos, Sul de Minas. Sua mãe era "Calçada’ por Dólar,
do Sr. Manuel Sá Fortes Junqueira. Era baio, calçado, marchador, de exterior bom. Com Rapôsa II gerou "Disco", do mesmo criador, um castanho, bom de marcha.
 
E assim podemos notar no transcorrer destas linhas, que BELLINI foi um excelente raçador e ótimo reprodutor.
 
Posso citar como filhas do Pretinho: Lynch, Máscara (preta), Fortuna do Pretinho e Douratilha por Estrela. Pretinho gerou "FAROL", de Urbano Xavier de Andrade, um preto com andamento trote de cão. Farol com lracema gerou Rio Negro do Sr. Bilota. Rio Negro com Rapôsa gerou "Sota" do Campo Lindo. Farol foi o cavalo que José de Rezende Meirelles montava quando de seu casamento com Urbaninha no Campo Lindo, em 1904.
 
Outro genearca antigo afamado que não se sabe o nome de seus pais, foi "DOURADO" de Tobias Junqueira, Três Corações. Era castanho. Deixou duas filhas: Princesa do Dourado e Dourada por Birrenta. Do mesmo criador, Tamandaré I, um zaino que gerou Tamandaré II. Este com Princesa, filha de Dourado, gerou Tamandaré III.
 
RADIO
na Exposição de Lavras, em 1.943.
Um outro garanhão que não poderia deixar de comentar, é o "Seta Caxias", crioulo da Fazenda Engenho de Serra. Foi Campeão Nacional em 1944, em Belo Horizonte. Era tordilho, muito bem conformado, porém tinha lombo comprido, ótimo marchador. Ótimo reprodutor. Foi utilizado na Fazenda Herdade pelo Sr. Dié, onde gerou diversos produtos bons, tais como: H. Bronze e Cadilac (reprodutor provado com diversos filhos campeões), Herdade Rancheira, etc..
 
E assim termino de contar um pouco de história de alguns genearcas famosos do passado, autênticos animais da raça Mangalarga, raça esta iniciada pelo Gabriel Francisco Junqueira e seus irmãos. As famílias Junqueira, Meirelles, Andrade, Reis, Ribeiro, eram muito entrelaçadas e interligadas. Para mostrar este fato, cito alguns exemplos: tio Olimpio Souza Reis, irmão do CeI. Christiano, era sócio do tio Joaquim Cândido Ribeiro, irmão do tio João do Capinzal, na Fazenda Pensilvânia, vizinha da Luiziana, de que era proprietário José Venceslau de Arantes Junqueira, sobrinho do Joaquim e do João. Estes por sua vez, eram irmãos das minhas tataravós
Mariana da Bela Vista e Francisca da Bela Cruz e do José Ribeiro Junqueira da Niagara.
 
Antonio Gabriel Junqueira, do Narciso e seu irmão Chiquinho do Cafundó, eram casados com sobrinhas, filhas de sua irmã mais velha, Helena Nicésia (filha do Barão de Afenas). É um balaio de gato. Urbano Xavier de Andrade Fortes era filho de Cândido Xavier de Andrade Fortes com Urbana Andreza de Souza Meirelles. E assim por diante. Francisca Ribeiro Junqueira, da Bela Cruz, era casada com Cap. Prudente dos Reis Meirelles, do Angahy. E sei dizer que através dos filhos do Barão de Alfenas, Antônio Gabriel e Chiquinho do Cafundó; dos seus netos João "Bravo", Custódio da Boa Vista (pai de José V. A. Junqueira da Luiziana), José Ribeiro Junqueira da Niagara, Mariana da Bela Vista, Francisca da Bela Cruz (casada com Prudente Meirelles); e de seus sobrinhos Francisco Antonio e José Frausino do Favacho; estes todos juntos, formavam o império onde se criava "Mangalarga", e onde havia intercâmbio de idéias e negócios. O confeccionador destas páginas tem a honra e o orgulho, de ser um dos mais finos ramículos desta árvore gigantesca e tão frutífera. Meu falecido pai Antônio Josino Meirelles era neto do Cel. Christiano rios Reis Meirelles que contava antes de falecer mil e duzentos sobrinhos diretos, netos e bisnetos.

HERDADE OURO PRETO
reg. 142. Nascido no Angahy a 07.10.1943,
por Monte Negro e Garbosa. Vendido ao Engenho de Serra, que mais tarde o vendeu para o Dié da Herdade, onde deixou boa descendência.
E assim, tomamos conhecimento de que existiram verdadeiros protótipos de homens de bem, já ceifados pela morte, mas cuja memória devem os posteriores reverenciar, tomando-os como modelo, como se vivos fossem e presentes estivessem ao nosso lado, na mais estreita comunhão de alma e pensamento e em verdadeira comunicação entre o Passado e o Presente, numa só Unidade, na IMENSIDADE DO TEMPO.
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SETA CAXIAS
Caracterização raciail perfeita. Ótimo reprodutor
Filho do Gaúcho do Angahy com Baiana do Engenho de Serra.
É pai de Herdade Bronze e Herdade Cadilac.
 
 
SÁTYRO
Filho de Rádio. Foi utilizado na Fazenda Angahy.


 
 
 
Grupo de criadores e expositores em visita
à Exposição de Caxambú, por ocasião da
fundação da ABCCMRM, no ano de 1949.
Da esquerda para a direita: Zezé Siqueira,
Nelson Meirelles, José Mario, Alaor A. Reis,
Samuel Junqueira, Laerte Junqueira,
José Bento (Bentinho), Christiano (Netinho),
José Braulio, Adeodato dos Reis Meirelles (Angahy)
e Waldir Junqueira.
 
 
Trabalho escrito por Carlos Roberto Ribeiro Meirelles,
a partir de dados coletados em cartas e documentos
deixados por: José Olinto Fortes Junqueira,
João Francisco Diniz Junqueira, Maurício Ribeiro Gomes,
por parentes amigos.
 
Fotografias cedidas pelo autor.

 

        

      

Haras, Escritório e Atendimento

Rod Vicinal Batatais-Jardinópolis, km 12 - Batatais,SP
Mapa de localização
(16) 3659-8117
(16) 9.9991-6600 / (16) 9.9991-6622

Endereço Correspondência

Rua Jorge Tibiriça, 434 - Ribeirão Preto, SP
CEP 14.025-510

E-mailcontato@selvamorena.com.br

Skypehtm_apoio

Selva Morena | Desenvolvido por HTM Gestão e Tecnologia

agênciammarchador